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domingo, fevereiro 29, 2004

“Monster” de Patty Jenkins 

A crítica muito que tem dito de Charlize Theron (a boazona moribunda do “Sweet November”, ou simplesmente a boazona do “The Italian Job”) neste “Monster”. Fui ver e confirmo. Brilhante. A rapariga engordou de tal maneira, com tal caracterização que está nojenta! Admiro a coragem, e se o objectivo dela era deixar de ser mais uma menina bonita de Hollywood e passar a ser uma actriz, então, pelo menos comigo, conseguiu.
A história é violentíssima, chocante. No fim do filme tive aquela sensação de precisar urgentemente de um duche. Tem mensagem. Todavia, não é por isso que aconselho o filme, porque custa muito a ver e mexe muito com as tripas lá bem no fundo.
Voltarei de certeza a ver o filme daqui a uns anos, mas agora nem consigo sacar o divx de tal modo que me quero afastar daquilo.

"Moby Dick" de Herman Melville 

Durante anos a ideia que tive deste livro foi sempre muito controversa. Por um lado a história para putos de que tanto ouvimos falar nos filmes americanos, por outro a obra brilhante que inaugurou a tão sui generis (e multi generis) literatura moderna. Decidi acabar com esta incongruência e ataquei as quase mil páginas de letrinhas pequeninas.
Toda a narrativa acontece num mundo ao mesmo tempo fantástico e concreto. Temos a sensação de que a história da literatura fez-se aqui, nestas palavras exactas que lemos. Metáforas que se transformam em parábolas da nossa civilização e que hoje compreendemos no quotidiano como quase óbvias. Cada passagem está tão transbordante de simbolismo que temos que ler e reler sem nunca deixar de lá encontrar maravilhas novas de abstracção, onde Melville consegue encontrar similitudes entre o mais excêntrico e o mais usual. Este nível de abstracção leva-nos a compreender personagens incríveis, cheias de força de carácter e de vida própria. E este processo leva-nos consequentemente a compreendermos um pouco mais de nós próprios. Só por isso, vale a pena. Por isto, a caça à baleia branca é um hino à própria essência humana, onde por mais que se tente, nunca deixaremos esta guerra entre o Bem e o Mal (tão em voga nos tempos que correm) que nunca distingue de maneira clara quem incorpora o Bem ou o Mal (também tão em voga nos tempos que correm).
Quanto a uma observação mais prática em termos literários a estupefacção continua. Melville salta de estilo em estilo, passando pelo épico, pelo teatro, pela descrição, pela política e religião, pela crítica de costumes, pelo drama (clássico e de que maneira) e até (durante páginas e páginas) pelo simples texto científico onde descreve a baleia conforme o que se conhecia dela há 200 anos. A maneira como as palavras escorrem cheias de significado denota uma linguagem universal, donde a tradução do original é completamente independente da língua, cultura ou religião.
Se antes achava que uma pessoa não podia perseguir a sua completude sem primeiro ler o “Livro de San Michelle“ e o “Senhor dos Anéis”, hoje acho o mesmo em relação ao “Livro de San Michelle“, ao “Moby Dick” e a ver o “Senhor dos Anéis” (obrigado Hollywood, simplesmente por existires).

Assim como que em jeito de P.S. transcrevo uma passagem do livro que penso que ilustra o brilhantismo metafórico de Melville, que eleva o símbolo acima do próprio objecto, universalizando-se, onde a sua capacidade de abstracção é o espelho de todo o pensamento humano, intemporal.

«…por maior que seja a superioridade intelectual de um homem, não lhe é possível dominar prática e duravelmente os outros homens sem representar uma espécie de mil comédias. É o que afasta os verdadeiros príncipes do império que Deus lhes preparou nas assembleias do mundo; deixa as mais altas honras para aqueles homens que se tornam famosos, mais devido àquilo que possuem de inferior aos príncipes do que devido às suas qualidades de superioridade sobre as massas. Mas existe um tal poderio nestas pequenas comédias, quando postas ao serviço de certas superstições políticas extremas, que não é raro vermos o mais imbecil assumir o poder. Mas quando, como no caso do czar Nicolau, a coroa do mando cinge um cérebro imperial, então a horda popular avilta-se e permanece esmagada perante a tremenda centralização. E o poeta trágico que canta o grande desejo de liberdade dos homens não deve jamais esquecer estes factos.»

terça-feira, fevereiro 10, 2004

"Big Fish" de Tim Burton 

Um dos filmes mais esperados dos últimos meses. Embora pessoalmente não seja um fã incondicional do muito “in” Tim Burton, devo dizer que tinha algumas expectativas. O filme começa e logo aí o surreal que acompanha os filmes deste jovem excêntrico realizador deu sinal de vida, contudo, também logo aí me apercebi que o ambiente obscuro e frívolo que acompanha invariavelmente o seu «Batman» ou o seu «Eduardo, Mãos de Tesoura» tinha sido eliminado de vez. De resto, a história, a meu ver, é um hino à sagueza. A fantasia assume aqui, em detrimento da sua acessoriedade, um papel central na história enquanto complemento para a própria realidade.
Parece-me fundamental nos dias de hoje, em que nos esquecemos que a mentira em si pode bem ser uma boa verdade e no entanto pisamos peremptoriamente qualquer traço de exclusiva fantasia, e em que preferimos um rápido comprimido de distracção à fantástica viagem que cada um pode dar no seu próprio imaginário – e, acima de tudo, partilhá-lo com os outros –, uma mensagem tal e qual aquela com que, sem dúvida, somos confrontados neste filme.
Não vale a pena falar sobre a representação de Ewan McGregor nem de outros detalhes que seriam politicamente correctos nesta situação. Basta dizer apenas que de 1 a 5 dou 6 a Big Fish, pelo argumento, sim, mas acima de tudo pelo prazer que é ir assim ao cinema.

P.S.: estavam 5 pessoas na sala de cinema e não haviam pipocas :D

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