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terça-feira, novembro 11, 2003

Realidades e Relatividades, Realismos e Relativismos (discurso do come a sopa q há meninos a passar fome) 

Ontem tive exame de Sistemas Operativos. Bem bom! Às 7 da noite. Passei o dia pela faculdade, e numa das minhas deambulações por lá algo me fez parar numa daquelas pontes q ligam um edificio ao outro (para quem conhece o sitio). Provavelmente a fumar e à espera de alguém, já n sei. Encostei-me ao parapeito e fui olhando para os canteiros como habitualmente faço à procura de novos objectos interessantes q os meus caros colegas tenham achado desinteressantes e tenham devidamente atirado lá para baixo. É sempre curioso notar q pela quantidade de pacotes de batata frita sempre se pode saber qual a batata frita mais "in" do momento.

Mas a razão deste post é outra. Bem encostada ao muro lá em baixo, certa de q ninguém a via, passava uma senhora. Vinha de bata e ou era preta ou mulata pelos seus 40 (pessoas de cor é-me sempre dificil dizer a idade) e afastava-se. Vinha naquela brincadeira do equilibrismo tentando só pisar as pedras q dividem a calçada do canteiro. Mas o q mais me impressionou foi a deficiência da senhora: era manca, daquelas muito mancas q martelam o chão ao andar. Corcunda e toda virada de lado era a única maneira q ela tinha de se mover, lentamente. Tudo isto tornava a tarefa do equilibrismo quase impossível, havendo sempre de 2 em 2 metros um pé todo torto q lá saía fora da linha imaginária do jogo perdido. Mas logo retomava o percurso, insistente. Sensibilizou-me a cena.

Há menos de uma semana vi no noticiário qualquer coisa relativa ao ano do deficiente (q é o próximo ano para quem n sabe). Falta de infraestruturas e tal. Isto vinha acompanhado duma mini-reportagem com meia duzia de casos. Um senhor cego, bastante inocente e ingénuo disse a certa altura: "às vezes as pessoas acordam mal, ou qualquer coisa lhes corre mal logo de manhã e dizem: «tenho o dia estragado». Se assim é, eu posso dizer todos os dias q tenho a vida estragada. Mas n, a gente sempre arranja forças para ser feliz."

Aí há uns anos o meu irmão teve problemas nos olhos. A coisa remendou-se. Há coisa de 2 meses apareceu-lhe um problema: as glandulas lacrimais começaram a falhar num olho. 2 semanas depois, ou coisa q se pareça, apareceu-lhe uma cratera na córnea (uma pequena ferida irritante no olho). Pouco depois, essa ferida apareceu infectada com uma bactéria. A coisa é grave, embora se resolva. Existe no entanto uma hipotese infima de ficar cego dakele olho. A causa é a falta de hidratação do olho, por causa das glandulas deficitárias. Locais com ar condicionado, tal como aviões, são completamente proibidos. Ora o meu irmão tem estado sem emprego (direito internacional, quer trabalhar em ONG's especialmente em países de 3º mundo). O avião para ele é o nosso metro. No outro dia, pelo telefone disse ao meu pai: "a minha vida profissional está fodida, e assim n vale a pena". Ele e a namorada são muito depressivos. Estão a viver enclausurados em Lyon, sem emprego, num quarto com uma despensa/casa de banho e kitchenet (ou lá como se escreve). O estado francês apoia muito os estudantes, dá-lhes muitos peixes, mas nenhuma cana. O apartamento é pago e os morfes (para quem n morfa muito) também. Mas, de facto aquilo n é vida para ninguém. A situação deles preocupa-me, e qualquer dia dão um tiro um ao outro.

Recentemente uma amiga nossa perdeu o pai, numa daquelas situações de sofrimento arrastado tanto para uns como para outros, numa daquelas situações q só acontecem aos outros. Aconteceu-lhe a ela e merece todo o nosso apoio e admiração pela maneira notável como parece ter reagido.

Ora, onde quero eu chegar?
A condição humana é fraca. Foi o q o Smith disse ao Neo fora da matrix, com a cara já feita em merda enquanto cuspia sangue. Mas o certo é q o Neo no fim entra pelo cu a dentro dos Smiths todos e parte aquilo tudo. A mensagem está lá. É fraca a condição, mas é relativa. Por muita merda q nos apareça à frente, somos nós e só nós q decidimos quando é q é demais. Isso dá-nos uma força incrível. Dá-nos a liberdade contornar a nossa condição e sermos alguém, e só aí, sermos alguém. Não é preciso ser manco e corcunda, ou cego, ou cegolho e muito menos morrer alguém q amamos. Penso q cada um escolhe o seu limite à medida q a vida nos testa. Uns mais q outros, como em tudo.

p.s.: desculpem se foi um bocado depressivo :D

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